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sábado, 4 de junho de 2011

Impressões de uma terapia.

Trilha sonora para mim mesma: "Alone Apart" - Marketa Irglova e Glen Hansard

Um osso de galinha entalado na minha garganta. Bebo água, boto água pra fora através dos olhos, me irrito, grito, sinto o peito e o mundo sufocados porque o ar não pode passar tão livremente. O ar de dentro não sai e o de fora não entra. Me sinto um balão de festa de criança. Sempre gostei mais dos balões de gás hélio, mas esse eu jamais poderia ser pois se você solta esse, ele voa. E neste momento, voar é a última coisa que eu poderia fazer. Infelizmente. Fico tão nervosa que me esqueço de que garganta serve pra falar, e se tá entalado aí é porque tem palavra querendo sair e não está conseguindo. Então procuro ouvidos. Ombros. Braços. Telas. Caracteres. Fotinhas tão pequenas que nem é possível ver os olhos de quem é. Procuro lugares que possam me escutar de alguma maneira. Falar pra mim mesma não parece ser bom. A gente sempre procura a gente no outro, mesmo sabendo que as pessoas são diferentes. Isso porque qualquer identificação já é um alívio, um respiro, uma mínima certeza de que não se está sozinho no mundo com aquele problemão. Mesmo que não se resolva, alguém também tem, e a dor parece um pouco menor.

Mas é mentira. As pessoas são egoístas e cada um tem a sua dor. Pode ser a mesma, mas não é igual. E falar pra quem só escuta pela metade não adianta muito. A metade que saiu não foi bem recebida do lado de fora, acabou voltando como criança quando sente medo de madrugada e vai pra cama dos pais... e fez confusão com a parte que ficou... O osso de galinha continua aqui, e eu só não arrisco dizer que ele aumentou porque senão eu teria morrido sufocada e não estaria aqui agora. E vocês não acreditariam.

Mas sabe. existem pessoas que estudam para ouvir 100%. São os ouvidos mais atentos do mundo, e estão diretamentes ligados a um cérebro magnífico que ao receber informações da minha vida é capaz de simplificar toda a minha confusão (porque não é o meu próprio cérebro, obviamente), e mandar pela boca palavras de (des)conforto que me fazem sentir melhor. Por apenas alguns muitos dinheiros. E eu resolvo falar as palavras engasgadas para os ouvidos 100%. Começo falando baixo, um pouco tímida, as palavras se espremendo entre o ar e o osso de galinha, saindo meio tortas e cansadas. Quase não acreditando que estão sendo libertas, meio desconfiadas, ressabiadas, fazendo rodeios. Não sabem ao certo pra quem estão indo, se misturam nas mãos agitadas trocando o anel de dedo em dedo, arrumando a franja já arrumada, colocando o cabelo atrás da orelha, mexendo na casquinha do brinco que tá inflamando a orelha, puxando fiozinho da blusa, se misturam nas pernas fortemente cruzadas. São soltas e jogadas para alguém que realmente as escuta, e aos poucos as outras vão sentindo vontade de sair também, pois também querem ser ouvidas. E as outras, as outras, as outras... Nessa hora as palavras da garganta já liberaram o espaço e o ar passa livremente, de dentro pro mundo, do mundo pra dentro. Existe ar do lado de fora, e é tão puro, e é tão bom. Balão de gás hélio. E sobe, sobe, sobe... E quanto mais alto, mais leve, pois as palavras estão saindo e tirando todo o peso. Palavras que estavam guardadas em tantos lugares, onde nem eu mesma sabia que existiam. E falo falo falo falo falo...


Mas também escuto. Verdadeiras porradas. Coisas que me fazem parar por três segundos num sorriso amarelo, numa reflexão tão profunda que sou capaz de viajar no meu universo inteiro e voltar com outra visão completamente diferenciada de tudo o que eu acabei de falar. E é simples assim como parece. Simples e dolorido assim. Dolorido porque descubro que se a minha vida fosse um filme num daqueles rolos de cinema antigo e você resolvesse projetar numa parede qualquer, você veria um filme em sua maioria preto e branco, totalmente mudo, e em algum determinado momento (ainda do início) a película embolaria e não daria pra ver o resto. A única pessoa interessada em ver o resto sou eu, portanto o trabalho de desembolar e consertar pra não embolar de novo é todo e puramente meu. Paciência, cuidado, organização do enredo, das datas, dos fatos, dos sentimentos de cada cena. E sem deixar romper para que o filme não fique pela metade pra sempre. O interesse é meu de ver esse filme terminando em um final feliz, colorido e com a trilha sonora que eu gosto.


Ass: Bella Marcatti